sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Os quatro elementos


           Dentro de várias tradições filosóficas e mágicas do mundo, os quatro elementos são base para a formação de toda e qualquer vida do planeta Terra, são considerados as energias criativas do universo. São eles: terra, água, fogo e ar.

          Em algumas tradições há um quinto elemento chamado de éter (alma), quintessência ou energia primal, de onde emanam os outros elementos. Os celtas não reconheciam forças superiores aos elementos, apesar de não considerarem o fogo como elemento, pois não se gera vida nele. O fogo era importante, mas como um agente transformador.

          Conhecer e trabalhar com esses elementos faz parte do caminho mágico dentro da Bruxaria, como tradição de origem pagã e de envolvimento profundo com a natureza.

          Um bom exemplo de estrutura baseada nos quatro elementos é a estupa tibetana. A base é formada por um cubo, representando o elemento terra. Acima temos uma esfera, que representa a água. No alto da esfera, uma forma espiralada, fogo, e por fim, logo acima, uma meia lua, ar, com uma esfera menor representando o éter. Podemos dizer que desta forma temos a estrutura do cosmo na visão tibetana.



Tudo que existe é uma personificação dos quatro elementos. O próprio corpo humano tem, em si, todos os elementos: terra (nossos ossos), água (sangue), ar (que respiramos) e fogo (nossa energia). Devemos aprender como mantê-los em harmonia.

Os elementos são representações de padrões de energia e, a partir de seu estudo, podemos chegar a várias conclusões e até mesmo soluções para problemas tanto básicos quanto mais complicados.

A Natureza sempre nos mostrou como atingir o equilíbrio. Vemos o nascer, o crescer e o morrer e todos os seres vivos interagindo com o ambiente onde vivem tecendo uma verdadeira teia que nos engloba todos. Com o passar das gerações, a humanidade foi se afastando cada vez mais da vida natural e se aglomerando em cidades de concreto, o que fez os humanos desligarem-se quase completamente da Natureza.

Os quatro elementos são maravilhosamente simples, mas absolutamente complexos. Vamos analisar todos os conceitos simples, pois, a partir deles, chegaremos ao complexo.




Fogo
O fogo representa o desejo, a vontade, a mudança, a purificação, a transformação, a energia da ativação que em termos, estritamente, espirituais, pode ser representado pelo poder da fé. Na magia, esse elemento é governado pelas Salamandras e tem um significado espiritual muito forte, por representar a Energia Divina. Em quase todas as religiões em que se utiliza de rituais, o fogo é utilizado como forma de representação da Luz Divina. As velas, as fogueiras são objetos que representam a força desse elemento.



Água
A água está relacionada às emoções do inconsciente, ou seja, as emoções que nutrem os nossos sonhos e ideais na vida. A água pode muito bem representar, no processo espiritual construtivo, a energia da esperança que alimenta e mantém ativa a fé ou a crença do iniciado. Na magia, esse elemento está relacionado às Undinas e de caráter feminino, em sua essência, tem o poder de ativar a intuição e a emoção. Os espelhos mágicos dos ocultistas podem ser objetos que muito bem representam esse elemento.



Terra
A terra representa o lado visível da vida ou a manifestação concreta de todas as sementes que germinam no mundo das ideias, mediante a ação concreta do Iniciado. Esse elemento ativa nossa energia interna para a realização e para a ação de coisas concretas. Representa ainda o nosso próprio organismo e tudo o mais relacionado ao mundo material. Geralmente, em hermetismo, esse elemento pode ser representado pelo símbolo da cruz que representa a materialização da essência divina. Os Gnomos são elementais que governam o elemento terra.

Ar
O ar representa o meio onde todas as ações e realizações humanas têm seu início, ou seja, o nosso mundo das ideias. Espiritualmente falando, ele representa o éter ou plano astral que, em linguagem mais moderna, pode muito bem ser chamado de psique ou inconsciente. É também o elemento representante da mente com suas frequentes transformações. O elemento ar está dessa forma, diretamente associado ao pensamento. Na magia as Fadas são seres do ar.



Quatro elementos na astrologia

Na astrologia, os signos da Água e da Terra são mais introspectivos, cautelosos e ponderados. Já os signos do Fogo e do Ar não têm tantas reservas e se expressam socialmente com menor precaução. Os elementos também foram divididos nas qualidades quente, seco, úmido e frio, a incorporação de uma teoria grega muito antiga, que posteriormente deu origem aos quatro temperamentos da medicina antiga: colérico (quente e seco), sanguíneo (quente e úmido), melancólico (frio e seco) e fleumático (frio e úmido). Quente e frio dizem respeito à quantidade de energia: alta ou baixa, respectivamente. Seco e úmido falam da capacidade, talento ou interesse maior ou menor em criar ou desfazer conexões.


O Elemento FOGO

Qualidades: Quente e Seca

Energia alta, rápida e grande talento para desfazer conexões. Não há quem não saiba o quanto o Fogo é de extrema necessidade para o homem. Aquece seu alimento, sua casa e oferece conforto. Transforma, funde, mas também é um elemento perigoso se estiver fora do nosso controle, podendo causar danos irreparáveis. Em outras palavras, o elemento Fogo representa a força do espírito. É o desejo da vida, a vontade de ser. Na astrologia, para os signos de Áries, Leão e Sagitário isto significa pressa, impaciência, ação individual, esperança, confiança em si próprio, paixões, desejo de vencer e honestidade. Os signos de Ar abanam as chamas do Fogo, fornecendo-lhes novas ideias, o que torna esses dois elementos compatíveis.

O Elemento TERRA

Qualidades: Fria e Seca

Energia concentrada, lenta e grande talento para desfazer conexões. Touro, Virgem e Capricórnio compõem o elemento Terra. São signos providos de muita paciência e autodisciplina, capazes de alcançar seus ideais com muita persistência. Esses signos tendem a confiar mais no raciocínio prático do que nas inspirações. Os signos deste elemento podem ser bastante cautelosos e convencionais, fazendo-os duvidar das pessoas com mente ágil. Suas principais características são: aplicação, concentração mental, esforço e espírito conservador. Acima de tudo, esses signos devem se preocupar mais em observar o mundo invisível, o mundo que não possui a forma concreta da Terra.

O Elemento AR

Qualidades: Quente e Úmida

Energia alta, rápida e grande talento para estabelecer conexões. Todos os seres terrestres estão conectados, pois todos respiramos o mesmo ar. Isso faz com que esse elemento se torne coletivo. Pessoas com o signo de Gêmeos, Libra e Aquário compõem o elemento da mente, geralmente se adaptam com facilidade e são muito curiosos. Enquanto os signos de Fogo desejam algo, os de Ar idealizam as coisas imateriais. Possuem uma maneira impulsiva de agir, sentimentos artísticos, preferência pelas mudanças objetivas e tendem à distração. Esse indivíduo pode caminhar na neblina, sem saber como aplicar suas energias, ou pode ter sua mente tão clara como o ar antártico.

O Elemento ÁGUA

Qualidades: Fria e Úmida

Energia concentrada, lenta e grande talento para estabelecer conexões. Assim como a Terra, o corpo humano é composto 70% de Água, o que nos leva a crer na importância vital deste elemento. Também é conhecida como solvente universal, ou seja, é capaz de dissolver mais substâncias que qualquer outro líquido conhecido por nós. Na astrologia, a Água pode ser simbolizada pela alma ou a emoção. Câncer, Escorpião e Peixes levam consigo as características deste elemento, o que significa sua sensibilidade e vulnerabilidade tão marcantes. Por isso, se não controlam suas reações emocionais acabam passando por frequentes instabilidades interiores.

Bônus!

          Além de bruxa, sou professora de literatura e amo poesia, e para mim, poesia é magia. Palavra transformada em emoção, é magia, por isso, vou deixar aqui quatro poemas que Vinícius de Moraes escreveu sobre a mulher amada e os quatro elementos. Ardentes, suaves, fluidas e concretas, suas palavras para a mulher amada, envolta nos quatro elementos, só provam que realmente eles estão em tudo.

 
Os quatro elementos
I - O FOGO
O sol, desrespeitoso do equinócio
Cobre o corpo da Amiga de desvelos
Amorena-lhe a tez, doura-lhe os pêlos
Enquanto ela, feliz, desfaz-se em ócio.
E ainda, ademais, deixa que a brisa roce
O seu rosto infantil e os seus cabelos
De modo que eu, por fim, vendo o negócio
Não me posso impedir de pôr-me em zelos.
E pego, encaro o Sol com ar de briga
Ao mesmo tempo que, num desafogo
Proibo-a formalmente que prossiga
Com aquele dúbio e perigoso jogo...
E para protegê-la, cubro a Amiga
Com a sombra espessa do meu corpo em fogo.
II - A TERRA
Um dia, estando nós em verdes prados
Eu e a Amada, a vagar, gozando a brisa
Ei-la que me detém nos meus agrados
E abaixa-se, e olha a terra, e a analisa
Com face cauta e olhos dissimulados
E, mais, me esquece; e, mais, se interioriza
Como se os beijos meus fossem mal dados
E a minha mão não fosse mais precisa.
Irritado, me afasto; mas a Amada
À minha zanga, meiga, me entretém
Com essa astúcia que o sexo lhe deu.
Mas eu que não sou bobo, digo nada...
Ah, é assim... (só penso) Muito bem:
Antes que a terra a coma, como eu.
III - O AR
Com mão contente a Amada abre a janela
Sequiosa de vento no seu rosto
E o vento, folgazão, entra disposto
A comprazer-se com a vontade dela.
Mas ao tocá-la e constatar que bela
E que macia, e o corpo que bem-posto
O vento, de repente, toma gosto
E por ali põe-se a brincar com ela.
Eu a princípio, não percebo nada...
Mas ao notar depois que a Amada tem
Um ar confuso e uma expressão corada
A cada vez que o velho vento vem
Eu o expulso dali, e levo a Amada:
- Também brinco de vento muito bem!
IV - A ÁGUA
A água banha a Amada com tão claros
Ruídos, morna de banhar a Amada
Que eu, todo ouvidos, ponho-me a sonhar
Os sons como se foram luz vibrada.
Mas são tais os cochichos e descaros
Que, por seu doce peso deslocada
Diz-lhe a água, que eu friamente encaro
Os fatos, e disponho-me à emboscada.
E aguardo a Amada. Quando sai, obrigo-a
A contar-me o que houve entre ela e a água:
- Ela que me confesse! Ela que diga!
E assim arrasto-a à câmara contígua
Confusa de pensar, na sua mágoa
Que não sei como a água é minha amiga.

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